O Património

O Bairro Ferroviário (Palácio do Coimbra)


A construção de bairros operários ou bairros de empresa no Barreiro inseriu-se numa estratégia política levada a cabo pelo chamado «Estado Novo» com um duplo objectivo: por um lado fixar a mão-de-obra junto ao local de trabalho e por outro dominar e apaziguar uma população potencialmente rebelde e avessa ao regime.
Neste contexto político e social surgiram no Barreiro os bairros de empresa da CUF e da CP .
O Bairro Ferroviário do Barreiro foi construído pela Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses (CP) entre 1933 e 1935. Trata-se de um conjunto urbanístico composto por 23 moradias, localizado no Largo do Palácio do Coimbra e Rua da Bandeira.

É constituído por duas tipologias de habitação, uma destinada ao «pessoal graduado» outra destinada ao «pessoal braçal», as quais possuem algumas características distintivas que evidenciam o estatuto sócio-profissional dos seus moradores.

O bairro da CP encerra em si as memórias e vivências dos ferroviários, ligadas ao quotidiano mas também a greves e lutas no tempo da ditadura salazarista, especialmente o episódio de 1935, quando um operário das oficinas dos Caminhos de Ferro de Sul e Sueste colocou uma bandeira vermelha no alto da chaminé das oficinas.

Estas habitações encontram-se já em grande parte desocupadas mas, a sua requalificação como habitação para ferroviarios reformados ou residências estudantis poderia ser uma solução a adoptar.

A valorização e classificação como Imóvel de Interesse Municipal deste núcleo edificado é muito importante para a preservação da memória e da cultura ferroviária no Barreiro.



A Rotunda

A Rotunda ou “cocheira das máquinas”, foi construída em 1886. Com a sua característica estrutura arquitectónica em planta semi-circular, constituiu na época uma das obras de maior vulto do complexo ferroviário do Barreiro. Comportava alojamento para 20 locomotivas a vapor e através de um mecanismo, o “charriot”, era ali que as máquinas faziam as manobras de inversão. Actualmente constitui um exemplar raro deste tipo de construção ferroviária.

Com os tempos a Rotunda de máquinas modernizou-se, passando a albergar o material ferroviário diesel e actualmente, constitui o depósito de máquinas do Barreiro.

Tendo em conta que o Barreiro foi sempre considerado a “Catedral do Diesel” pelos ferroviários, é do maior interesse preservar a velha Rotunda e dota-la com locomotiva, tractor e automotora, em estado de marcha, para no futuro se organizarem viagens históricas, quer pelas linhas do Sul e Sueste, quer pelo interior do antigo ramal industrial da CUF no Barreiro.


Oficinas dos Caminhos-de-Ferro


Desde 1859, quando foram construídas as Oficinas (primitiva estação) no sítio onde hoje continuam vivas, activas, gerando trabalho e riqueza, embora tenham perdido valências e mão-de-obra nos últimos anos.

 Depois de terem sido consideradas em 1886, “excepcionais” oficinas empregando 500 operários, de terem funcionado simultaneamente como gare terminal dos primeiros comboios durante mais de 20 anos, (sendo assim mais antiga que a estação de Sta. Apolónia, do mesmo estilo arquitectónico), porque não continuarem a ser as Oficinas, com maiúscula, onde se repara o histórico material diesel e onde se poderá reparar o futurístico material de alta velocidade?

Competências não faltam, a tecnologia pode ser renovada, o espaço pode ser reinventado. com a necessária formação/renovação da mão de obra altamente capacitada, poderá continuar a assegurar a vitória para o Barreiro dos desafios do futuro, como sempre assim foi!


Estação Ferro - Fluvial do Barreiro

Quando foram inauguradas as viagens Barreiro Vendas Novas em 1861, e logo a seguir Barreiro-Setúbal no mesmo ano, os passageiros que desembarcavam na primitiva estação (hoje Oficinas do Caminho de Ferro), eram obrigados a fazer a pé dois penosos quilómetros até ao embarcadouro do Mexilhoeiro onde começava a carreira fluvial para Lisboa.

O génio empreendedor do engenheiro militar Miguel Paes resolveu a situação dinamizando a construção de uma estação adequada em terrenos conquistados ao rio, inaugurada em 1884, das mais antigas no seu estilo donairoso e modesto de “art deco” autêntico ex-líbris da cidade do Barreiro.

Funcionou desde então com as suas duas valências até à inauguração do novo terminal fluvial em 1994, mantendo-se como terminús das linhas do Sado, do Alentejo e do Sul até 2004.  

Estudo global da área de afectação ferroviária

Na sua redacção actual o plano director municipal do concelho do Barreiro, aprovado em 1992, admite, através das chamadas unidades operativas de planeamento e gestão, a possibilidade de uso dominante para habitação da zona delimitada pelas oficinas da CP, a Av. da República e a rua Miguel Bombarda e a dominada Linha do Sul e Sueste.
 
Ainda que tudo esteja dependente de um plano de pormenor, poder-se-ia chegar ao limite de 365 fogos e 1095 habitantes. Previne contudo…” A preservação dos edifícios e das estruturas ferroviárias com interesse patrimonial podendo integrar uma unidade museológica - museu da ciência e tecnologia.”

Passaram muitos anos sobre a tal regulamentação e o pensamento sobre o valor patrimonial dos sítios históricos e sobre a importância da nossa memória colectiva, evoluiu no sentido da revisão de conceitos e na defesa de soluções programadas e sustentadas.

Estando em curso os trabalhos preparatórios de revisão do PDM, impõe-se que sejam ouvidos todos os interesses em presença num processo de auscultação, participação e envolvimento que assegure o justo equilíbrio entre os interesses de natureza histórica, patrimonial, cultural e social e os interesses da natureza económica.

Impõe-se pois em sede de revisão do PDM, um estudo global da área de afectação ferroviária que preserve a memoria histórica - ferroviária, que viabilize os projectos futuros de médio e longo prazo e que integre a rentabilização económica dos terrenos no interesse das partes e em beneficio da cidade.
 

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