A
memória é feita de tempos e espaços, muitos acontecimentos e lugares. Sobre um
lugar, ou acontecimento, podemos guardar em nós um universo de lembranças,
sensações e sentimentos. É assim que construímos uma memória individual e uma
visão do mundo. Se à nossa juntamos a riqueza de outras, sobre um mesmo lugar e
acontecimento, nasce uma combinação que poderemos considerar memória
colectiva.
No
Barreiro ferroviário existem muitos lugares onde se registaram múltiplos
acontecimentos. É sobre eles que pousa o nosso olhar, com o qual questionamos o
tempo.
A memória ferroviária foi tecida em quotidianos de dificuldades e
privações de natureza vária, sentidos na pele por homens, mulheres e crianças,
famílias inteiras que foram chegando ao Barreiro.
Forjou-se na aguda consciência política e social dos
ferroviários, em duras lutas e protestos, em diferentes momentos ao longo do
último século e meio. Muitos desses homens, em nome da liberdade e por acreditarem
nos seus ideais, pagaram com anos de prisão e deportação. Alguns nunca mais
puderam voltar ao Barreiro. A memória ferroviária manifesta-se, ainda, no património
construído, através dos bairros ferroviários e nos demais edifícios espalhados
pelo concelho, especialmente o significativo conjunto de infra-estruturas
oficinais. Nasceu do conhecimento partilhado, em antigas bibliotecas
associativas, grupos musicais, de teatro e desporto e emerge, em especial, de
um saber e conhecimento tecnológico, capital precioso, acumulado por gerações de
técnicos e operários ferroviários, especializados em múltiplas e distintas
profissões. Deu origem a um fenómeno histórico complexo, que hoje denominamos
cultura ferroviária.De modo tão impressivo que, há mais de 150 anos, constitui um
dos traços mais genuínos da identidade do Barreiro.
Foto: Espólio José António Marques, Arquivo Municipal do Barreiro
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